quarta-feira, 10 de julho de 2024

A CRISE NO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM CANGUÇU - RS (2007)

 

A CRISE NO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM CANGUÇU - RS

 

Juliano de Moraes de Aguiar[1]

 

 

RESUMO:

 

Trata-se de um estudo de caso, em que é feito uma análise e caracterização dos principais fatores que levam à escassez de água na cidade de Canguçu/RS. Para isso, são avaliados os aspectos fisiográficos, como é o caso da hidrografia local; se a gestão e os investimentos em melhorias e ampliação na captação e distribuição de água, por parte do órgão responsável pelo abastecimento, são ineficazes e insuficientes e; se devido as vocações econômicas agropecuárias do município, as autoridades municipais, nas últimas décadas, não tiveram a devida e necessária preocupação em aperfeiçoar e ampliar o sistema de abastecimento de água em Canguçu.

 

PALAVRAS CHAVE:

 

Geografia Econômica - Canguçu/RS, Água – Escassez, Água – Administração

 

ABSTRACT:

 

This is a case study, in which an analysis and characterization of the main factors that lead to water scarcity in the city of Canguçu/RS is carried out. To achieve this, physiographic aspects are evaluated, such as local hydrography; if the management and investments in improvements and expansion in water collection and distribution, by the body responsible for water supply, are ineffective and insufficient and; Due to the municipality's agricultural economic vocations, the municipal authorities, in recent decades, have not had the necessary and necessary concern to improve and expand the water supply system in Canguçu.

 


 


[1] Discente do Curso de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pelotas, 2007.

Correspondência – Rua: Ernesto Manke, 87 – Bairro Triângulo – Canguçu/RS.  

E-mail – aguiarjuliano@yahoo.com.br



1 – A Problemática da Escassez de Água em Canguçu

 

      A água potável, atualmente, é vislumbrada como um bem indispensável à manutenção da vida, não podendo, em hipótese alguma, ser coibido o direito ao uso e gozo do líquido em seu estado natural, ou seja, insípida, inodora e incolor, sob pena de infringência do princípio máximo elencado na Carta Magna de 1988 que é o direito à vida.  

      Tendo em vista o alto grau de dependência do homem ao recurso natural água e, a freqüente problemática anual de estiagem com conseqüente desabastecimento de água para a população no Estado do Rio Grande do Sul, principalmente, no município de Canguçu, o objetivo deste trabalho é analisar e caracterizar quais os principais fatores que contribuem para a escassez do líquido nessa cidade. A muitos anos que a população reivindica melhorias e ampliação na captação e distribuição de água para Canguçu. É comum entre os cidadãos apontar a escassez de água como o principal fator criador de obstáculo ao crescimento e desenvolvimento da cidade. Segundo os moradores locais, muitas indústrias deixaram de se instalarem em Canguçu porque a cidade não fornece água em quantidade mínima exigida para o funcionamento das indústrias e fábricas. A falta d` água nessa cidade, além de dificultar a vida diretamente dos moradores, cria outro problema social, indiretamente, ou seja, gera obstáculos a criação de empregos e geração de renda que permita o desenvolvimento social.

     Além de identificar as principais variáveis que levam Canguçu a ter um abastecimento ineficaz, foi dado ênfase na questão da averiguação de  possibilidades e potencialidades de se implantar projetos de ampliação e/ou analisar projetos existentes de melhoria da captação, produção e distribuição do líquido na cidade, com o intuito de contribuir para o esclarecimento e solucionamento do problema.

      Em síntese, dado a importância vital da água para a sobrevivência das populações humanas e, a problemática do racionamento quase que anual do líquido na cidade de Canguçu, o presente trabalho contribui para o fortalecimento de uma tomada de consciência que tenda a conceber a escassez de água como um problema de urgência máxima. E que, além disso, deve merecer das autoridades competentes, da população e órgãos privados um cuidadoso processo de união de esforços no sentido da ampliação da capacidade produtiva, da preservação dos mananciais hídricos responsáveis pelo fornecimento de água e, do uso racional em residências, instituições públicas, comerciais, etc.

      Para a obtenção de dados foram utilizados dois procedimentos: pesquisa documental e pesquisa bibliográfica. Além dos dois procedimentos, também foi feito um levantamento fotográfico nas represas para melhor ser visualizado o problema.

      Por meio da pesquisa documental foram extraídos dados de fontes primárias e secundárias, tais como: dados bibliográficos, estatísticos, pesquisas e material cartográfico, arquivos oficiais, registros em geral, etc; que foram o ponto de partida para o prosseguimento da pesquisa, inserindo o trabalho dentro da problemática estudada.        Foram visitados órgãos públicos e instituições que são competentes a produção de água potável na cidade de Canguçu para a obtenção dos documentos necessários.

      A revisão bibliográfica foi muito importante para esta pesquisa, já que, teve como função dar suporte e base para a interpretação dos dados, bem como, orientar possíveis indagações. Foi por meio do confronto dos conhecimentos bibliográficos com os dados levantados que, a análise e interpretação dos mesmos pode ser melhor compreendida.

 

2 - Aspectos Geográficos e Hidrográficos de Canguçu

 

      O município de Canguçu está localizado na região denominada Serra do Sudeste, como parte do Escudo Cristalino Granítico Sul Rio Grandense, de formação no Período Arqueano da Era Pré-cambriana inferior, a cerca de 4,5 bilhões de anos, constituindo-se nos solos mais antigos do Estado e do Mundo, por ser basicamente formado de Rochas Magmáticas. Situa-se entre os Paralelos 30° 53’ 08” e 31° 40’ 20” de Latitude Sul e, os Meridianos 52° 14’ 23” e 52° 59’ 06” de Longitude Oeste, possuindo uma altitude de 420 metros na sede municipal. Onde se ergue a cidade Canguçu, registram-se as maiores altitudes do município e da Serra dos Tapes, que dão ao local a característica de um nó orográfico divisor de águas onde possuem nascentes os cursos d’ água que deságuam e formam parte das bacias dos rios Piratini, a sudoeste; Camaquã, ao norte e, arroio Pelotas e Lagoa dos Patos, a leste. A localização da zona urbana no ponto mais alto do município é um fator determinante para a escassez de água, uma vez que, as nascentes localizam-se muito próximas da cidade, onde os arroios tem uma vazão relativamente pequena. Essa localização da cidade deve-se a um fato histórico, explicitado por ( BENTO, 1983 ), em que, a antiga área escolhida  para a zona urbana na localidade de Canguçu Velho, que tinha água em abundância para uma grande população, foi substituída pelo atual local devido a fatores políticos e religiosos, pois, a população se deslocou para o atual sítio urbano atraída pela localização da Igreja Nossa Senhora da Conceição, que ali foi instalada, devido a doação daquela faixa de terra para a Igreja, por dois Sesmeiros que disputavam o local e, solucionaram o conflito desta forma.

      A Hidrografia do município apresenta-se assim: dois rios com nascentes em outros municípios e, diversos arroios que cortam o município nas diversas direções, partindo das nascentes que ficam próximo a cidade, onde é o local de maiores altitudes da Serra dos Tapes e, divisor de águas do município, para a direção da Lagoa dos Patos, a leste e, as duas bacias formadas pelos dois rios, ao norte e ao sul, conforme mapa da hidrografia do município.

 

         Figura 1:  Mapa da Hidrografia do Município de Canguçu

        Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Planejamento e Urbanismo;


3 – A Organização do Sistema de Abastecimento de Água

     

      O abastecimento de água tratada e encanada em Canguçu, começou a vigorar em 1965, porém, desde cerca de 1960 já estava instalada na cidade a Hidráulica, antiga denominação da CORSAN.

      A primeira barragem de captação utilizada foi a da Olaria, que represa as águas do arroio da Olaria ainda no perímetro urbano atual, no bairro Prado a cerca de 1 quilômetro do centro da cidade e, tem um volume d` água estimado em cerca de 16.000 m3. Essa represa já existia em forma de açude e era utilizada e aproveitada pela população para a retirada de água antes mesmo da instalação da Hidráulica, devido ao fato de, as cacimbas não abastecerem a todas as residências e secarem em épocas de estiagem. No entanto, a represa fica localizada na cabeceira do arroio da Olaria ( Figura 4 ) e, este, que já tinha capacidade de vazão reduzida, foi sendo aos poucos afetado pelo crescimento da cidade de forma a ficar em um nível elevado de assoreamento, encontrando-se, na atualidade, reduzido a um pequeno córrego, como pode ser observado na ( Figura 2 ). 


                                Figura 2 : Arroio da Olaria atualmente

                                Fonte: Elaborada pelo autor


      Além disso, outro problema com relação a este reservatório hoje, é a localização, que preocupa autoridades e a população. A represa da Olaria já encontra-se situada dentro da cidade ( Figura 3 ), devido ao crescimento da área periférica e, recebe despejos de esgoto que escapam das tubulações próximas comprometendo a qualidade da água.


                               Figura 3: Represa da Olaria no Bairro Prado

                               Fonte: Elaborada pelo autor


      A cidade foi crescendo, no decorrer dos anos e, a demanda pela água aumentando, desde muitas décadas passadas, em contraste com a capacidade da represa da Olaria que foi diminuindo com o gradual processo de assoreamento da represa e do arroio da Olaria de reduzida capacidade.

      Foi aí que atendendo ao princípio de melhoria e ampliação da capacidade de captação e oferta de água e, a cláusulas de contratos que estipulavam esses princípios como direitos dos cidadãos de terem mantido o acesso a água potável em quantidade e qualidade mínima necessária, foi construída no início da década de 1980 e, inaugurada em 15 de março de 1984 a represa do Moinho. A barragem recebe as águas do arroio Moinho e/ou Pelotas, a uma distância consideravelmente pequena de sua nascente conforme ( Figura 4 ) e, possui cerca de 3 hectares de espelho d` água, localizando-se a uma distância de cerca de 4 quilômetros ao nordeste do centro da cidade.


     Figura 4: Mapa da hidrografia do entorno da cidade e da localização das represas


      Com o assoreamento do arroio da Olaria e a construção da represa do Moinho, a antiga represa da Olaria passou a funcionar como um grande reservatório natural, já que o arroio da Olaria encontra-se quase extinto, principalmente em épocas de estiagem. A água é transmitida da represa do Moinho para a da Olaria por meio de uma estação elevatória composta por 2 grupos motor/bomba de 100 Hp, com vazão média de 43 l/s e rede adutora de 200 mm de diâmetro, sendo 2000 metros de ferro fundido e 1000 metros de cimento amianto. ( SEBRAE, 1999 )

      Da represa da Olaria a água é novamente bombeada até a ETA, localizada na Avenida 20 de Setembro entre as ruas Cel. Leão Silveira Terres e José Albano de Souza no Centro. Da Olaria até a ETA a água é bombeada através de estação elevatória e 2 grupos motor/bomba de 50 Hp, com vazão média de 40l/s e rede adutora de 150 mm de diâmetro, sendo 966 metros de ferro fundido e 115 metros de cimento amianto. ( SEBRAE, 1999 )

      As duas estações reservatórios são acionadas por energia elétrica, devido ao fato de a cidade localizar-se no topo da Serra dos Tapes e, portanto, estar numa altitude mais elevada em relação as represas. Essa dependência da energia elétrica para o bombeamento da água também gera transtornos, pois, em caso de falta de energia, cerca de aproximadamente 2 horas depois, a cidade também fica sem água, por não haver como bombeá-la das represas.

      O sistema de abastecimento da cidade de Canguçu é composto por 5 reservatórios de armazenagem de água, conforme ( Tabela 1 ) e, possui uma Rede Geral de Distribuição com comprimento de 59.829 metros, sendo, 51.300 metros de PVC, 5.700 metros de cimento amianto e, 2.829 metros de distribuição precária. ( SEBRAE, 1999 )

 

Tabela 1: Sistema de Armazenagem de Água de Canguçu, 1998

LOCALIZAÇÃO

CAPACIDADE M3

N° DE ECONOMIAS

%

ETA

500

2624

44,08

Vila do Céu

250

1445

24,27

Vila Teixeiras

50

1070

17,97

Centro

10

214

3,59

Vila Nova

250

600

10,08

TOTAL

1060

5953

100

Fonte: BOEMEKE, L. R. S. apud SEBRAE, 1999

 

      Contudo, no decorrer do processo de crescimento e evolução de Canguçu, assim como a represa da Olaria deixou de atender a demanda de água, hoje, a represa Olaria e Moinho juntamente já não dão conta de suprir as necessidades quantitativas do líquido, principalmente nos períodos de estiagem do verão, o que, ocasiona a problemática do racionamento de água na cidade.

      Nos últimos três anos, em que o Estado do Rio Grande do Sul foi assolado por severas estiagens, os moradores de Canguçu convivem com os freqüentes racionamentos ocasionados pela escassez de água.

      A CORSAN trabalha com uma vazão média de 50 litros por segundo, o que, equivale a 180 m3 por hora. No entanto, a produção em períodos de estiagem é reduzida devido a baixa no nível de água das represas.

      Segundo a CORSAN, durante o ano a demanda de água na cidade oscila de acordo com o período e as estações do ano. No inverno, quando as estiagens prolongadas não ocorrem devido ao aumento dos índices pluviométricos, a demanda na cidade gira em torno de 2800 m3 por dia. Entretanto, no verão, quando as estiagens provocam a baixa nos níveis de água das represas, o consumo aumenta para 3200 m3 por dia.

      Essa razão inversa consumo/oferta de água, no decorrer do ano acarreta na escassez extrema durante os períodos prolongados de estiagem no verão. Quando os níveis das barragens atingem índices muito baixos, a CORSAN toma algumas medidas emergenciais para equilibrar o consumo com a disponibilidade de oferta dos reservatórios.

      A primeira medida dramática tomada pela CORSAN e, contestada pela população, é o racionamento de água. Nos últimos três anos esta prática foi adotada para minimizar a situação caótica de falta de água nos reservatórios. Os racionamentos ocorreram nos meses de março/abril de 2004, março de 2005 e fevereiro de 2006.

      Nos anos de 2004 e 2005, a CORSAN adotou a prática de rodízio de setores de abastecimento. Nesse sistema a água era fornecida durante 6 horas em cada bairro por dia. O sistema não deu certo porque na periferia da cidade a água só chegava até as residências nas últimas horas destinadas ao abastecimento daquele bairro devido ao terreno acidentado e, as vezes não chegava, obrigando os moradores a adquirir a água do caminhão pipa da CORSAN e gerando, divergências e descontentamentos.

      Já no período de racionamento de 2006, de duração de 10 dias, a CORSAN adotou outra forma de distribuição. Além dos caminhões pipas que distribuíam água para creches, escolas e, também para a população, a cidade foi dividida em cidade alta e baixa, de acordo com a topografia e, a água foi fornecida um dia para cada parte, alta/baixa. O novo modelo visou distribuir melhor a água para todos os bairros durante o racionamento evitando descontentamentos.

      Além do corte da água por meio do racionamento, a CORSAN também passa a não trabalhar com os reservatórios cheios, para diminuir a pressão da água e o consumo em épocas de estiagem. A produção diária em época de racionamento cai dos 3200m3 normais para o verão, para 1300m3 à 2500m3. ( CORSAN, ETA/Canguçu, 2006)

      Outra medida emergencial feita, é o transporte de água bruta de açudes de propriedades das imediações da cidade, para a Estação de Tratamento objetivando o desabastecimento total. Além disso, a CORSAN represa córregos ( Figura 5 ) das imediações da represa Moinho e, passa a bombear a água para dentro da represa para ajudar a evitar a falta total de água, já que, poços artesianos foram feitos, mas sem sucesso, devido a pouca água existente no subsolo granítico.

 

                           Figura 5: Represamento emergencial feito em um córrego

                           Fonte: Elaborada pelo autor


      As causas que ocasionam a escassez e, o conseqüente racionamento de água em Canguçu, segundo a CORSAN, são: 1) a estiagem; 2) os mananciais de pequeno porte; 3) a construção de açudes na zona rural próximo as nascentes que afetam as represas retendo boa parte da água que iria ser represada.

      No entanto, neste cenário de falta d’ água, ocorre uma situação definida a seguir que contrasta com a realidade e, remete a busca pelas variáveis que levam a escassez, ao questionamento das causas apontadas pela CORSAN. Trata-se de estimativas da própria Concessionária, em que, constam dados de diminuição da demanda de água na cidade no período de 2001 à 2006. Essa queda na demanda foi ocasionada, provavelmente, segundo à CORSAN, pelo aumento da instalação de hidrômetros nas residências que, passou de cerca de 40% de casas com o aparelho instalado em 2001 para aproximadamente 100% em 2006, o que, inibiu o consumo a partir da emergência do ônus proporcional ao gasto, aliado, às melhorias nas redes de canalização que reduziram perdas de água. Entretanto, mesmo com a diminuição da demanda nos últimos anos, a escassez a os racionamentos de água aumentaram em razão inversa ao consumo que diminuiu, fato que, põe em dúvida as explicações dadas pela Concessionária à respeito do fator causador da escassez extrema de água em Canguçu.

      Ao analisar mais profundamente o caso, verifica-se que a gestão da captação e abastecimento de água para a cidade, feita pela CORSAN, tornou-se incompatível com as necessidades da crescente população urbana canguçuense.

      É sabido, que o município tem a responsabilidade pela prestação dos serviços públicos diretamente ou sob regime de concessão ou permissão. Entretanto, os serviços de abastecimento de água de Canguçu, são feitos pela CORSAN sob regime de concessão da Prefeitura Municipal, mediante Contrato de Concessão de acordo com a Lei Orgânica Municipal.

      Sendo assim, as responsabilidades pelo adequado fornecimento de água potável passam a ser da CORSAN, uma vez que, através do contrato celebrado com o município, estão dispostas cláusulas referentes aos direitos e obrigações da Concessionária, na exploração dos recursos hídricos e na ampliação da captação e fornecimento de água de maneira equilibrada, que atenda as necessidades da população e, que gere a remuneração devida a Concessionária nos termos da lei.

      O Contrato de Concessão vigente, data de 1996 e tem validade de 20 anos. Neste, o município de Canguçu concede a exploração dos serviços de abastecimento de água e, de execução de obras de ampliação e melhorias dos respectivos serviços, da área urbana de Canguçu, para à CORSAN.

      Dessa maneira, às obrigações da Concessionária estão explícitas na Cláusula Sétima, Incisos I ao X do Contrato de Concessão de 1996. Essas obrigações, visam a atender algumas necessidades da população e do município. Dentre as obrigações da CORSAN destacam-se: ações que objetivem o equacionamento e o solucionamento, de forma satisfatória, dos problemas referentes ao abastecimento de água; a garantia do funcionamento adequado e da continuidade dos serviços que atendam ao crescimento vegetativo da população, promovendo, para isso, as ampliações necessárias de acordo com os objetivos e normas gerais dos planos oficiais de saneamento e viabilidade econômica-financeira dos investimentos; estudos que permitam enfrentar o sistema de saturação do sistema de abastecimento de água, com data prevista para o ano de 1997. O município, fica obrigado pelo Contrato, a participar com o percentual de 25% dos custos com obras de ampliação e melhoria no sistema de abastecimento de água.

      Contudo, hoje, após cerca de 10 anos da firmação do Contrato, instalou-se um impasse entre a Prefeitura Municipal e a CORSAN. Ficou claro, através da análise do Contrato de Concessão, que a responsabilidade pelo adequado fornecimento de água na cidade de Canguçu está a cargo da CORSAN. Porém, as obras de ampliação e melhoria no abastecimento de água, de competência da Concessionária, são insatisfatórias e não atendem às necessidades da população, segundo o Governo Municipal. Ademais, a CORSAN não cumpre com o compromisso de melhorias e ampliação do abastecimento, firmado no Contrato de Concessão de 1996, o que, levou a Prefeitura Municipal a ingressar na justiça em setembro de 2005, pedindo a observância às Cláusulas Contratuais por parte da Concessionária.

      O sistema de captação de água está saturado e, necessita de urgente ampliação para que os racionamentos sejam erradicados da cidade. Segundo o Governo Municipal, desde a construção da represa do Moinho, em 1984, que a CORSAN não investe significativamente em melhorias e aumento da capacidade produtiva de água, o que, levou o sistema de abastecimento ao atual colapso e ineficácia. Atualmente, nem mesmo o desassoreamento das represas é feito para aumentar a capacidade de acúmulo e, a retenção de água no inverno, com exceção do reservatório da Olaria, que foi desassoreado no verão de 2006, provocando polêmica quanto à época escolhida para a realização da obra, já que, a estiagem estava prejudicando o município e, a qualidade da água foi alterada pela obra segundo os moradores locais.

      A represa do Moinho, atualmente, também encontra-se assoreada ( Figuras 6 e 7 ), fato que limita drasticamente a capacidade de acúmulo e retenção de água diminuindo o volume total represado.


                      Figura 6: Represa do Moinho de Canguçu

                      Fonte: Elaborada pelo autor


                       Figura 7: Assoreamento na barragem Moinhos

                       Fonte: Elaborada pelo autor


      Além de encontrar-se assoreada, a barragem Moinhos tem um potencial que permite a execução de obras de ampliação da capacidade de armazenamento. O local onde a represa assenta-se é apropriado para, por meio de escavações, ser ampliado em largura e profundidade aumentando o volume acumulado, tendo em vista que, a barragem está bastante afetada pela sedimentação dos terrenos laterais que causam o assoreamento conforme ( Figura 7 ). 

      Além disso, um relatório técnico do Laboratório de Mecânica dos Solos da Faculdade de Engenharia Agrícola da UFPel, fez as seguintes observações  a respeito da barragem Moinhos: ( Anexo do Ofício 001/2006 GP, enviado pela Prefeitura Municipal ao Governador do Estado em 02/01/2006 ).

1)    a bacia de captação da barragem Moinhos possibilita o extravasamento de água durante o período de prescipitações pluviométricas significativas;

2)    o arroio próximo a chegada à barragem Moinhos mantém uma vazão mínima relativamente significativa, mesmo em períodos de estiagem.

O extravasamento mencionado, é facilmente perceptível no local, pois, na parte destinada a saída do excedente de água, que pode ser visualizada na parte esquerda da ( Figura 7 ), encontra-se um processo de grande erosão no arroio logo ao final da parte pavimentada que, demonstra que em épocas de chuvas significativas, grandes quantidades de água são desperdiçadas.

Portanto, é  viável e aplicável a baixo custo um aumento na capacidade de retenção da barragem, já que, o arroio Moinho possui vazão significativa e suficiente e, a base da represa já está pronta, permitindo que projetos de engenharia sejam adicionados para aumentar  a capacidade da represa atual, melhorando a curto prazo o problema da falta d` água na cidade.

Ainda como sugestão, o relatório anteriormente mencionado, propõe a escavação da barragem, próximo a ombreira direita de modo a preservar o cotovelo do arroio e, impedir a entrada de materiais em suspensão na captação da água. Esta proposta, também menciona que o material extraído pode ter outros fins, como por exemplo, pavimentação de vias, sendo portanto, ambientalmente correto por evitar a exploração de outros locais. 


      CONCLUSÃO

 

      Em Canguçu, este trabalho identificou que o problema com relação à escassez e falta de água, não é apenas atual, mas sim histórico e, está atrelado ao próprio desenvolvimento da cidade.

      Os aspectos geográficos demonstraram que, o município de Canguçu possui recursos hídricos com potencial para abastecer a toda a população, assim como, ao distrito industrial que encontra-se pouco desenvolvido. A cidade, encontra-se cercada por vários arroios, localizados em distâncias não muito grandes do centro urbano, assim sendo, este trabalho comprovou que uma das hipóteses iniciais que antecederam esta pesquisa, de que o município não dispunha de recursos hídricos com possibilidades viáveis de captação e distribuição, não se confirma. Os arroios situados próximos a cidade, principalmente o Moinho e/ou Pelotas, oferecem potenciais de aumento e ampliação na capacidade produtiva de água na represa, assim como a construção de outra represa ao longo de seu curso, para abastecer não só a uma população superior a já existente na cidade, mas também, a indústrias e fábricas que podem vir a instalarem-se no município com a melhoria e ampliação da oferta de água.

      A análise da gestão da água no município, demonstrou que a captação e distribuição de água para a cidade, está sob a responsabilidade da CORSAN por meio de um Contrato de Concessão celebrado com o Município. Ao longo do texto, também foi exposto que a Concessionária não está realizando um fornecimento de água de maneira adequada e, que atenda às necessidades mínimas da população canguçuense. Assim como a represa da Olaria deixou de atender a demanda de água no passado, hoje, a represa Olaria e Moinho juntamente já não dão conta de suprir as necessidades quantitativas do líquido, principalmente nos períodos de estiagem do verão, o que, ocasiona a problemática do racionamento de água na cidade. A cidade cresce, a população aumenta, enquanto que, desde 1984 quando foi inaugurada solenemente a represa Moinhos, à CORSAN não investe maciçamente em melhorias e ampliação da capacidade de represamento e captação de água para a cidade. Este fato, aliado ao elevado nível de assoreamento da represa atualmente, confirma às premissas iniciais desta pesquisa de que a Concessionária não investe o suficiente para solucionar, de maneira equilibrada, os problemas referentes a escassez e falta de água para a cidade de Canguçu.

      No que refere-se ao município, as primeiras ações para a melhoria no abastecimento de água, foram tomadas quando da concessão dos serviços para a Concessionária Estatal, cujo reconhecimento é tido em todo o Rio Grande do Sul. Além disso, as ações que reivindicam o cumprimento do Contrato de Concessão pela CORSAN, tem sido tomadas, chegando ao extremo de a Prefeitura Municipal ter que ingressar na justiça reivindicando o cumprimento do referido Contrato. Essa divergência entre CORSAN e município, aponta que este último está realizando o seu dever, cobrando melhoras e ampliações no sistema de abastecimento de água da cidade. Este fato, descarta as suposições iniciais anteriores à realização desta pesquisa, de que, as autoridades municipais não estariam dando a devida atenção para o problema da escassez e falta de água em Canguçu.

 

REFERÊNCIAS:

ANA. Disponível em:  <http://www.ana.gov.br/>. Acesso em 03 mar. de 2006.

BENTO, Cláudio Moreira. Canguçu Reencontro com a História; Um Exemplo de Reconstituição de Memória Comunitária. Porto Alegre, IEL, 1983.

BOSENBECKER, Laedi Bachini. Conhecendo Canguçu. Canguçu: Composição e Impressão da Livraria Mundial – Pelotas, 1987.

BRANCO, Samuel Murgel. Água: Origem, uso e preservação. São Paulo: Moderna, 2000.

BRANCO, Samuel Murgel. Hidrologia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1991.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Somos as Águas Puras. Campinas: Papirus, 1994.

CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais. São Paulo: Cortez, 1991.

CORSAN. Cartilha de Educação Ambiental. Porto Alegre: s/d.

CORSAN. Disponível em: <http://www.corsan.com.br/>. Acesso em 25 fev. 2006.

DEMO, Pedro. Introdução à Metodologia da Ciência. São Paulo: Atlas, 1985.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Práxis. São Paulo: Cortez, 1995.

GOLDENBERG, Mirian ( Org. ). Ecologia, Ciência e Política. Rio de Janeiro: Revan, 1992.

GOULARTE, Céres da Rosa. Pálidos Traços da História de Cangussu. 1° ed. Pelotas: Editora Livraria Mundial, 2000.

GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito das Águas e Meio Ambiente. São Paulo: Ícone, 1993.

IBGE, Cidade. Disponível em: <http://www1.ibege.gov.br/cidadesat/xtras/temas>. Acesso em 08 mar. 2006.

LUTZENBERGER, José ( et. al. ). Política e Meio Ambiente. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.

MINAYO, Maria Cecília de Souza ( Org. ). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1994;

MORAES, Antônio Carlos Robert. Meio Ambiente e ciências Humanas. 2° ed. São Paulo: Hucitec, 1997.

SEBRAE. Levantamento das Potencialidades: Vocações e Vantagens Comparativas do Município de Canguçu/RS. Canguçu: PRODER Especial, 1999.

THEODORO, Suzi Huff. Conflitos e Uso Sustentável dos Recursos Naturais. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

 




 








Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lista preliminar de nomes de meu Livro - RAÍZES CANGUÇUENSES - Transcrição Literal com Genealogia Comentada do 1º Livro de Transmissões de Canguçu-RS (1832 - 1859) - que será lançado em 2025/26

  Abel Coitinho (Coutinho) da Rocha ( Cabo do Exército - 1850 ) Abel Louzada de Almeida Agueda dos Santos de Farias Albertina Ignacia de Jes...